quinta-feira, 9 de junho de 2011

Run Forest!

Brasília (e está tudo ok) – Na semana passada, li o texto da Coluna “Text Writer” do portal Grande Prêmio (leia aqui), escrita pela blogueira Carolina Mendes. Não achei o texto brilhante, tendo em vista o pouco foco dado ao Grande Prêmio de Mônaco (que deveria ser o objeto principal do texto), mas uma afirmação ficou martelando na minha cabeça: 
“Sou do tipo de idiota que aceita desafios. Mesmo desafios, que mais que desafios, são pura imbecilidade.”. 
Parecia que Carolina estava falando sobre mim, ou melhor, parecia eu falando sobre mim mesmo. Sou exatamente do mesmo jeito. Tenho uma dificuldade imensa em dizer “não” frente a uma nova situação, uma situação desafiadora ou uma situação que me leve a descobrir um novo limite. E foi esta mesma incapacidade, que me levou a aceitar o desafio de integrar a equipe Run Forest! e correr a Ultramaratona Volta do Lago Caixa, que aconteceu no último domingo, dia 05 de junho.


Qual criatura, em sã consciência, aceitaria participar de uma prova em que oito pessoas se revezariam entre quatorze trechos para percorrer, ao todo, uma distância de 100 Km, tendo participado, até então, de uma única corrida de 5 Km? Parece insano, não? Foi exatamente o que me ocorreu quando contornei a subida da Ponte do Bragueto, no fim da Asa Norte, após percorrer aproximadamente 5,5 Km, de um total de 6,8 Km, desde o Centro Olímpico da Unb até a Câmara Legislativa. Este foi o terceiro trecho da prova, o meu primeiro. Enquanto me indagava: “O que estou fazendo aqui?”, o monitor cardíaco denunciava a razão do desespero: 194 bpm. Aparentemente, o meu limite (desconhecido até ali). Reduzi a passada, respirei fundo e consegui chegar a um ritmo cardíaco que me permitiu completar o trecho e passar o chip (uma espécie de bastão) para a Carol, que faria o próximo trecho. Fui recepcionado pelo Luiz (líder de nossa equipe) e pelo Érico (nosso coordenador). “Vamos aproveitar o gás e voltar para o ônibus correndo”, disse-me Luiz. Até ensaiei um trote, mas faltou-me fôlego até para dizer que estava exausto. Fui andando mesmo. Completei os 6,8 Km em 32'59", nada mal.

Ao entrar no ônibus, meu pensamento era o de convencer alguém a me substituir no segundo trecho, tamanho era o desgaste. Foi aí que vi a diferença que a equipe era capaz de fazer. Todos me parabenizaram, motivaram, além de me ajudar com a hidratação e alimentação. Em pouco menos de dez minutos, já estava confiante novamente. Àquela altura, havíamos completado dois trechos: o primeiro, do início do Eixão Sul à Concha Acústica, onde a Maria voou; e o segundo, da Concha Acústica ao Centro Olímpico da Unb percorrido velozmente pelo Luciano. Voltamos para o ônibus e fomos em disparada para o início do Lago Norte, onde a Carol passaria o chip para o Luiz. Tínhamos que ser rápidos neste deslocamento, pois este trecho, da Câmara Legislativa ao início do Lago Norte, era um dos mais curtos da prova (sua dificuldade era o terreno acidentado). Fizemos tudo certinho e prosseguimos. O trecho que o Luiz estava percorrendo era a maior perna do circuito, do Parque do Lago Norte ao Clube do Congresso, com 9,5 Km. Ao final, o Luiz estava muito desgastado e assim tinha que ser, já que ele havia completado em 47', um tempo espetacular! Vale um parêntese: havíamos planejado completar a prova em 10 horas, com uma média de 6 minutos por kilômetro e vínhamos baixando o tempo a cada trecho completado. Fecha parêntese.


O próximo trecho, do Clube do Congresso ao Deck Norte seria engolido pelo Victor Miguel que correu muitíssimo bem. Do Deck Norte ao Piscinão do Lago Norte, fomos representados pelo Marcelo que correu um trecho dificílimo, com diversas subidas, rindo e fazendo graça. Do Piscinão do Lago Norte ao Paranoá, nosso representante foi o Victor Propato, nossa arma secreta. Um cara que tem cinqüenta anos e dá show em muitos garotos (incluindo este que vos bloga). E chega um dos trechos mais críticos da prova: da entrada do Paranoá à Ermida Dom Bosco, com uma subida de dar medo logo depois da ponte da Barragem do Paranoá. Eis que o Luciano percorreu esta subida sorrindo. Não à toa, foi batizado de herói.

Já havíamos completado mais da metade da prova e o clima dentro do nosso ônibus não poderia ser melhor: muita descontração, principalmente graças à Maria, que tem um alto astral fantástico e funciona em 220 volts; o apoio dado a cada integrante que completava um trecho era fundamental para atenuar o desgaste; a trilha sonora era de primeira, embora o mesmo CD tenha tocado umas dez vezes. Todos estavam motivados, entregues e focados no objetivo e aqui vale registrar o trabalho de um cara fundamental: o Érico, nosso coordenador. Este cara não participou da prova como corredor, mas correu para fazer as coisas funcionarem, organizou tudo, anotou os tempos, preocupou-se com a logística, orientou as transições e tudo mais. Sem este cara, certamente não alcançaríamos o mesmo resultado.

O relógio marcava aproximadamente meio dia e trinta quando o Luciano entregou o chip à Carol, na Ermida Dom Bosco. Sua missão seria correr até a Terceira Ponte. Neste intervalo, aproveitei para descansar (dormir mesmo), já que ainda teria um trecho de 8 Km pela frente. O próximo a correr foi o Victor Miguel, que deveria ir da Terceira Ponte até a QL 16 do Lago Sul. E foi rápido. O chip foi entregue ao Marcelo, e este deveria entregá-lo a mim no Pontão do Lago Sul. Tivemos um pequeno desencontro neste deslocamento e tive que pegar uma carona na van de outra equipe. Nada que atrasasse nossa transição, 16’ após a saída do Marcelo.


E mais uma vez, estava eu, correndo em busca dos meus limites. Desta vez não deixaria meu ritmo cardíaco passar de 190 (um limite que havia acabado de conhecer), então comecei de forma mais comedida, até porque o início do meu trecho foi uma espécie de cross-country (não sei nem como se escreve) e no fim do trecho eu teria que enfrentar a subida da Unieuro. Percorri meus últimos 8 Km com menos dificuldade do que esperava. Mantive o ritmo cardíaco dentro de níveis seguros, porém senti um pouco do desgaste causado pelo primeiro trecho, o que me fez continuar no ritmo em que comecei, de aproximadamente 05'20" por kilômetro. Um aspecto muito importante neste trecho foi o apoio das pessoas que estavam passando na rua, sem qualquer envolvimento  com a prova. Fui cumprimentado em paradas de ônibus, ruas residenciais, por carros que estavam passando e por uma senhora que acompanhava a prova e que, curiosamente, posicionou-se em dois pontos fundamentais deste trecho: antes de duas fortes subidas. "Vai meu filho, força!" - é o que me lembro de ter ouvido. Em nosso segundo "encontro", retribuí seu apoio fazendo um sinal de positivo e mandando-lhe um beijo com a palma da mão. Era o mínimo que podia fazer. Completei este trecho em 43'37", entregando o chip para a Maria que nos representaria até a linha de chegada.

Entrar no ônibus após ter percorrido 8 Km foi fantástico, significou bastante. Acredito que o Marcelo percebeu isso e me recebeu com uma cerveja geladíssima. Mais uma vez, ficamos alerta para oferecer apoio à Maria. Apoio dado, nos dirigimos à linha de chegada, onde recepcionaríamos nossa corredora e onde ultrapassaríamos a linha de chegada juntos. Ficamos sentados no meio fio, à beira do Eixão (altura do Banco Central) e, quando a Maria apontou na reta, todos levantaram e ficaram em posição. Corremos, todos juntos, 50 metros para a glória, para a vitória do coletivo, da superação e do companheirismo. Êxtase era a palavra. Completamos a prova em 08:47:47 (tempo oficial), ficando com a vigésima sétima colocação entre os octetos mistos. Participar desta prova, além da realização pessoal de correr aproximadamente 15 Km, renovou-me a chama do esporte em equipe, que havia esfriado em algumas experiências vividas recentemente. A equipe Run Forest!, além destes resultados, me trouxe alegria, confiança, apoio, companheirismo e a possibilidade de viver um clima que não dá para descrever aqui. Junto com as pessoas certas, podemos vencer quaisquer desafios: físicos, mentais, sociais ou profissionais. Ano que vem tem mais!

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