segunda-feira, 13 de junho de 2011

Trinta e Uns

Taguatinga (é dia 20, quero presente!) - Este mês, faço 31 (trinta e um) anos. Não sei se tem muito a ver, mas há uns dois ou três anos ando mais filosófico e, desta vez, me peguei filosofando sobre o quanto a idade me transformou ao longo do tempo. Ainda não cheguei a uma clara conclusão, mas é certo que desde o nascimento dos gêmeos, estou mais prudente, menos inconsequente, faço alguns planos a longo prazo, enfim, estou mais medroso mesmo. Amadureci, como se diz.


Aliás, na minha concepção, o que mais me faz diferença nesta história de amadurecer, ficar mais velho, ganhar mais uma primavera e etc. é o aumento do medo. Dizem que ao longo do tempo aprendemos  atalhos, a trilhar caminhos mais diretos e a errar menos. Grande coisa! Adorava mesmo quando batia cabeça várias vezes até chegar a algum objetivo e, quando conseguia, sentia aquele gostinho de vitória, por mais irrisório que fosse; quando cada conquista demorava tanto, que dava tempo de sentir ansiedade, desespero e tudo o que era necessário para ter orgulho a cada pequeno feito; quando não tinha vergonha o receio de dizer ou fazer o que viesse à cabeça.

E já que estou ficando mais velho e mais medroso, posso revelar aqui qual o meu maior receio: o de perder o brilho adolescente nos olhos, de desistir de mudar as coisas que não acho que estão corretas, de não tentar melhorar o mundo em que vivo e de me tornar um pai proibitivo para os gêmeos. Gostaria de ter sabedoria para unir o melhor dos dois mundos. Resumindo: amadurecer sem deixar o espírito adolescente de lado; ousar sem ser inconsequente; tentar, sabendo que o resultado pode não ser aquele eu gostaria que fosse; e ter consciência das dificuldades, mas não deixar de acreditar que pode dar certo. Meu maior medo é amadurecer e deixar de ser quem sempre fui.

Um comentário:

  1. Rapaz, eu acho um equívoco essa percepção de que o aumento do medo é sinal de amadurecimento. O medo é humano e está presente em todas as idades. Quando criança, por exemplo, eu não tinha medo de escuro, mas tinha medo de ficar sozinho em casa. Num certo período da minha vida, tive medo das fatalidades - algo como uma grande tragédia que impusesse um peso na minha vida de tal modo que eu fosse incapaz de removê-lo. Hoje, tenho as minhas inseguranças, mais relacionadas com ansiedade e com auto-cobrança do que com medo. E quando sinto alguma espécie de medo, vejo que na maior parte das vezes é mais uma invenção minha do que algo concreto.

    No geral, temos medo de perder, medo de não conquistar e daquilo que consideramos uma ameaça. Por vezes, o que a gente recebe da vida nos adverte de que nossa ação pode resultar em perda. No entanto, temos a oportunidade de voltar ao caminho que consideramos correto, corrigir nossa atitude mental e o ânimo com que encaramos as coisas. Temos também a oportunidade de perder e com isso aprendermos a ser menos rígidos e mais elásticos. Temos ainda a oportunidade de chorar e ver que o choro também pode ser uma conquista, pois somente o ser humano que tem amor dentro de si é capaz de derramar lágrimas. Se tudo na vida for visto como oportunidade, nada foi, é, ou estará perdido. Se a cada momento aprendemos algo, sempre haverá um ganho. Se essa consciência se fortalece, os motivos para ter medo diminuem, e este cede lugar ao desapego. E desapego liberta, e libertação traz clareza... E por aí vai.

    Outra coisa que me chamou atenção neste teu post foi o teor romântico e nostálgico dele. Expressões como "receio de perder o brilho adolescente nos olhos", "desistir de mudar as coisas que não acho corretas" e "meu maior medo é amadurecer e deixar de ser quem sempre fui" evidenciam isso. Bachelard, em A Intuição do Instante, diz uma coisa muito interessante, que mudou minha relação com o tempo. Ele diz: "o passado é um hábito". Eu acho essa frase maravilhosa. Muitas vezes buscamos preservar algo antigo só por costume, mas se formos analisar direitinho aquilo não tem mais a ver com o que somos hoje, com o que nos tornamos. Sobre o futuro (os planos a longo prazo do primeiro parágrafo), Bachelard defende ser um tempo inexistente, pois não passa de manifestação de vontade. Enfim, para o filósofo francês, a força do tempo reside no instante. Passado e futuro seriam formas de distanciar o homem de sua experiência momentânea e, consequentemente, distanciá-lo de si mesmo.

    Bem, para fechar, pois o sono está chegando (são 4 da manhã), acredito que mudar, ser vários ao longo da vida, é algo bom. Por isso, não vejo muito sentido em ter medo de deixar de ser quem foi um dia. Mudança traz renovação; já manter o que está gasto, aquilo que não diz mais acerca de quem você é, só te prende e emperra a tua fluidez na vida. A filosofia oriental contida no IChing nos diz que sabedoria é conhecimento aliado à experiência. Creio que amadurecimento segue por aí. E nisso vão seus medos, alegrias, tristezas, angústias, sonhos e todo o celeiro humano pertencente a nós.

    Um grande abraço e luz em suas reflexões.

    Guto.

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