terça-feira, 21 de setembro de 2010

A Evolução Tecnológica e a Involução da Sociedade

Brasília (ser ou não ser?) - Sem dúvidas, estamos passando por um processo de inovação tecnológica. E talvez, estejamos passando pelo processo de mudança mais radical do qual temos notícia (sem contar as mudanças impostas pela mãe natureza). Nunca estivemos tão próximos da informação. Atualmente, receber uma notícia uma hora após seu acontecimento já pode ser considerado desinformação. Para mim, o ápice da comunicação em tempo real foi a morte de um dos maiores ícones da música em todos os tempos – Michael Jackson – em tempo real, transmitida ao vivo pela rede americana CNN (irônico, pois ele sempre usou a mídia muito bem). A “revolução da informação”, como nossa era será conhecida, está aí. O mundo já tem consciência de sua existência e de quase todos os recursos que ela lhe oferece. O que uma boa parte do mundo não sabe é que a evolução tecnológica está nos trazendo um perigoso efeito colateral: a Involução da Sociedade.


Tá legal, alguém vai me dizer que hoje em dia as pessoas estão se comunicando com mais facilidade, que fazem amigos (ou mantém amizades) à distância, que conversam com familiares que à vezes estão do outro lado do mundo. Ótimo. Tudo isso é muito importante. É a parte boa, digamos. Realmente é muito melhor poder dialogar usando uma webcam em tempo real do que trocar postais que às vezes levam semanas para chegar ao destino (embora também tenha seu valor). É muito bom conseguir falar com a pessoa “agora”, ligando em seu celular, enquanto que, há alguns anos, teríamos que ligar para a casa da pessoa e ter a sorte de encontrá-la ou deixar um recado e aguardar retorno. É fantástico ler, via internet, uma notícia vinda do Japão poucos minutos depois de seu acontecimento. Todas estas possibilidades são fantásticas, sem dúvida alguma. A noção do que está acontecendo no mundo, a possibilidade de conhecer mais sobre outras culturas, estar conectado a outros países de maneira on-line.

Um dos lados sombrios da facilidade da informação é a perda da privacidade ou da noção do que é privacidade. Pessoas públicas, principalmente, não tem mais direito a momentos de lazer com suas famílias ou com quem quer que seja sem serem fotografados, sem que alguém comente na Internet ou sem que alguém poste o fato no Twitter. Como mencionei anteriormente, chegamos ao cúmulo de acompanhar a morte de uma pessoa (MJ era antes de tudo uma pessoa) de maneira on-line. O cara não tem privacidade nem na hora de sua morte? Havia milhares de curiosos acompanhando a situação e quem estava ali com vontade de ajudar? O helicóptero da CNN acompanhou todo o trajeto da ambulância até o hospital. Por que não transportar o paciente evitando o trânsito, já que de helicóptero seria muito mais rápido? Dar a notícia ou ficar sabendo dela é, muitas vezes, mais importante do que o fato em si. Como se houvesse alguma competição que premiasse quem ficou sabendo primeiro ou quem ficou sabendo de mais coisas. O acesso à informação criou uma espécie de ganância por ela. Tanto para quem a emite, quanto para quem a consome.


Aqueles enormes grupos de crianças e adolescentes brincando nas ruas são cada vez mais raros. Muitos deles estão em casa vendo televisão, conversando em chats, jogando on-line ou navegando na internet. Tudo isso deveria ser agregado ao cotidiano e ter seu próprio espaço, sem que as atividades presenciais fossem deixadas de lado. Outros fatores também contribuem para este cenário, como o aumento da violência, que faz com que os pais prefiram ter seus filhos perto de seus olhares, dentro de casa. Os adultos, também são afetados pela mudança e faço referência a um texto que postei outro dia sobre o que chamei de “Tecnodependência”, que nos traz soluções para problemas que não tínhamos.

Penso que a sociedade passa, além de um processo de evolução tecnológica, por um processo de involução social, onde cada vez menos se vê o senso de coletivo, onde o respeito ao próximo é cada vez menor, onde as pessoas tem medo umas das outras, onde é mais fácil ‘teclar’ em um chat do que bater bom papo pessoalmente. A facilidade de acesso é perigosa, pois também traz a acomodação, a desvalorização da informação. Além de pensar em facilitar seu cotidiano, a sociedade também deveria pensar em como fortalecer seus valores e evitar algumas barbáries que temos visto nos últimos tempos. Para isto, não é preciso deixar de evoluir tecnologicamente. É uma questão de valorizar mais o conteúdo do que o meio.

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