terça-feira, 27 de julho de 2010

Só recomeçando...

Taguatinga (voltando atrás) - Tinha prometido à mim mesmo que não falaria sobre política aqui no blog, mas algumas coisas tem martelado na minha cabeça e não posso deixar de registrar aqui. No fundo nem são questões estritamente políticas, mas enfim... Há quatro anos atrás constatei alguns traços do comportamento do eleitor e político brasileiros e que, infelizmente, tem se ratificado desde então: não sabemos votar, não sabemos nos candidatar, não sabemos fazer campanha.

Tudo bem, o voto é pessoal, intransferível, secreto e etc. Mas o voto determina não apenas o destino do próprio cidadão, mas da sociedade. Sendo assim, apesar do voto ser individual, suas consequências são refletidas no coletivo. O eleitor brasileiro não tem esta noção. Perguntando entre amigos e conhecidos sobre o motivo pelo qual tal candidato foi escolhido, não é difícil encontrar justificativas como: "Ele me prometeu um aumento de salário", "Vou ganhar um lote", "Ele vai dar um emprego para o meu irmão", "Ele vai tirar os radares das vias", "Ele vai trazer a abertura da Copa" e por aí vai. Então, pensam eles que a função de um deputado, senador, governador ou presidente é esta? Dar empregos, distribuir terras da União, fazer lobby? E o pior é que apesar de muitas destas promessas não serem cumpridas as pessoas continuam votando pelos mesmos motivos. Atendendo a interesses menores ou não, o que impressiona é que a cada dia aparecem mais candidatos oferecendo este tipo de coisa (muitas delas impossíveis) e angariando eleitores. Muitos pensam em benefícios superficiais, egoístas e absurdos e pouco preocupam-se com o passado dos candidatos com suas opiniões sobre problemas crônicos da sociedade, sobre economia, sobre educação ou sobre política externa. Nós, os eleitores brasileiros, não sabemos exatamente quais a funções de um deputado ou de um senador e, por conseguinte, não sabemos votar.

Em 2010, principalmente na disputa presidencial, o que vemos é uma disputa para ser o "menos pior". Em cada fórum de debate, fala-se o que aquele círculo deseja ouvir. E nos fóruns mais abrangentes, a estratégia é desmoralizar o concorrente. É assim que se faz campanha? Na frente dos bispos o candidato fala que é contra o aborto. Na frente de uma comissão de feministas, diz que é a favor. Para os empresários, dizem que a carga tributária é alta. Mas nos últimos dezesseis anos, divididos na dicotomia direita-esquerda (oito anos para cada) a única coisa que se viu foi a criação de novos impostos. Este tipo de postura só leva a crer que não há compromisso real na hora de prometer. O único objetivo é agradar o interlocutor. Outra situação recorrente é a tentativa de convencimento por meio da desmoralização do concorrente. O melhor caminho para provar que suas propostas são boas é fazer um dossiê que exponha os "podres" do concorrente? O eleitor não pode ser convencido pelo simples fato de gostar mais das idéias de um candidato? A troca de acusações é o melhor caminho para provar que o candidato terá uma atuação mais eficaz do que a do seu concorrente? Sinceramente, penso que não. É, não sabemos fazer campanha.

Em cargos com maiores quantidades de vagas, como as câmaras estaduais, a situação é ainda pior: dezenas de candidatos sem proposta e sem saber o que querem fazer de fato no poder legislativo. Muitos candidatos, sequer conhecem de fato, qual a missão do cargo que está pleiteando. Uma rápida consulta no site do TSE chega a arrancar risos. Mas o assunto é sério. Várias pessoas lutaram e algumas morreram para que hoje nós pudéssemos sair de nossas casas, votar e eleger nossos representantes no poder legislativo e nos governos. O que se vê é a banalização do que deveria ser o que há de mais sagrado na democracia: o congresso nacional.

É muito triste, mas acima de tudo, preocupante. E não vejo com uma questão de falta de instrução, apenas. Até porque conheço pessoas que cursaram o nível superior e tem a mesma postura que citei aqui. O contrário também é válido. A questão aqui é cultural. A cultura do "toma lá, dá cá", do "uma mão lava a outra", da "lei de Gérson" e acima de tudo de pensar muito mais no individual do que no coletivo. Para solucionar esta questão, nós, cidadãos brasileiros, teremos que nos reinventar, começar do zero novamente.

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