domingo, 29 de janeiro de 2012

Precisamos de heróis

Taguatinga (orgulho do papai) - O texto que irei reproduzir a seguir foi escrito pelo meu cunhado, Paulo Gentil, após um domingo em família aqui em casa. Naquele dia, uma atitude do meu filho, Caio, nos fez refletir e repensar alguns aspectos de nosso comportamento ante ao próximo. Quem ainda acha que as crianças não tem algo a nos ensinar, não convive com uma ou não está prestando a devida atenção.


"Precisamos de Heróis

por Paulo Gentil, segunda, 19 de Dezembro de 2011

Hoje eu fiz o meu programa preferido: passar o dia com minha família. Esse programa ganhou um sabor especial quando, no dia 01 de maio de 2008, nasceram os gêmeos Caio e Bia. Crianças mudam tudo! E esses dois mudaram mais ainda nossas vidas! É incrível o quanto podemos aprender com as crianças. No churrasco de hoje, o pequeno Caio me fez refletir e a conclusão que cheguei foi o título desse texto: precisamos de heróis! 

Estávamos brincando no quintal e, de repente, o pequenino correu para dentro de casa sem falar nada. Como ele demorou, eu entrei  para procurá-lo, preocupado, e me deparei com meu sobrinho vestindo uma camisa do Brasil. Ele me olhou com um sorrisão e gritou: "olha Dindo, igual a você!".  Eu olhei para baixo e lembrei que eu estava vestindo uma camisa do Brasil. O coração amoleceu na hora e me deu um nó na garganta. Então a Bia chegou e disse que também queria ficar igual ao Dindo! Que tio coruja não se derreteria ali? Prontamente, fui buscar outra camisa do Brasil, mas não havia! Falei com minha irmã, ela procurou... e nada. Ficamos em um dilema, pois não sabíamos como agir. Duas crianças e uma camisa. E agora? De repente, o Caio, com seus 3 anos, tira a camisa e fala "olha, Bia, essa é para você, eu guardei para te dar". Depois de entregar, ele olhou para baixo, meio triste por estar sem a camisa e em seguida agiu como se nada tivesse acontecido.

Entendamos umas coisas. A Bia não pediu para ele dar a camisa, a Bia não chegou a chorar, nós não sugerimos nada. Ele simplesmente tomou a iniciativa de dar a camisa para a irmã, pois não queria que ela ficasse triste e, mais ainda, fingiu que aquilo não era nada demais, fingiu que estava vestindo para guardar para a irmã! Tenho que confessar que aquilo me deu um nó na garganta quase impossível de desatar. Naquele momento, a camisa do Brasil era o foco da atenção de todos nós, ela era a coisa mais importante na situação. E uma criança de apenas 3 anos abriu mão daquilo pela irmã, espontaneamente , e ainda se preocupou em dissimular a bondade.

O que é um herói? De maneira simplificada, eu defino herói como alguém que faz o bem, independente das conseqüências. É como naquela cena clássica do filme com alguém sacrificando a própria vida para salvar a do próximo. Sentados em nosso sofá, ficamos orgulhosos da ação, mas ao mesmo tempo tristes pela morte do personagem, questionando por que ele fez isso. A resposta é: ele fez isso porque não agüentaria sua própria consciência se houvesse agido diferente. Ele não fez para obter retorno algum, pois sua vida terrena acabou ali mesmo! Ele fez o bem, porque é o que ele achava certo e ponto! 

Mas há também os que pensem diferente. Os que acham que o político honesto é ingênuo, que o administrador que se preocupa com o bem-estar de seus funcionários é fraco, que o motorista que cede a vez é sonso, que o comprador que recebe troco a mais e devolve ao caixa é otário, que a pessoa que se recusa a enganar o próximo é tola... bem, desde criança a gente sabe como chamar essas pessoas. Eles sãos os vilões! Vilões são os caras que se preocupam apenas com eles mesmos, em realizar suas vontades, mesmo que isso sacrifique o próximo! Nós nunca gostamos deles e não precisamos deles. 

Precisamos de heróis! Precisamos de pessoas que ouçam sua consciência. Que não calem a agonia que surge diante do mal-estar do próximo. Que aproximem suas atitudes do seu discurso. Que valorizem o sorriso interior depois de uma boa ação. Que acreditem que não há dinheiro que pague a leveza da cabeça no travesseiro. Mas não precisamos deles apenas quando um meteoro se aproxima da terra, quando forças malignas tentam dominar o Mundo ou quando terroristas estão prestes a destruir nossa cidade! Precisamos deles o tempo todo. Quando alguém incapacitado quer atravessar a rua, quando uma grávida tenta equilibrar a criança e suas compras, quando um idoso quer um ouvido para contar a mesma história pela enésima vez, quando uma pessoa está passando mal na rua e precisa de atenção, quando seu amigo está carente, quando alguém precisa de um sorriso e, por que não, quando sua irmãzinha quer vestir uma camisa do Brasil! 

É por isso que o Caio me deu uma lição de vida hoje. Quando éramos crianças, todos nós vibrávamos ao ver nossos heróis fazendo o bem. Nós queríamos ser iguais a eles. Queríamos salvar o Mundo. Quando somos crianças estamos genuinamente perto do Bem. Não pensamos em dinheiro, temos sonhos legais, sonhos verdadeiros, sonhos genuinamente bons! Agora, por que esquecemos disso quando crescemos? Em que momento da nossa vida, passamos a acreditar que não vale a pena sermos heróis? Por que fingirmos não ouvir aquela voz que nos diz claramente o que é bom e o que mau? Todo Mundo ama os heróis, em qualquer idade! Então por que agimos como vilões quando crescemos?

Quanto ao Caio? Quando eu e meu cunhado conversamos, concordamos que esse menino é especial e precisamos estimular isso. Eu acho que, mais importante do que descobrir e estimular habilidades intelectuais, desportivas, artísticas, etc, é descobrir e estimular o exercício do bem...  Mas nem todos valorizam isso, e surgiu um medo: medo que o Mundo obrigue o Caio a mudar. O que eu penso? Eu espero que isso não aconteça, eu espero o contrário. Eu espero que os heróis, como o pequeno Caio, mudem o Mundo. E, quanto a mim, se for preciso brigar contra o "Mundo" para manter o Caio assim, pode ter certeza que ele terá o Dindo como aliado! Até porque, sinceramente, eu também quero ser herói. Quem sabe eu ainda consigo?! Nem que seja como auxiliar do meu sobrinho!"

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