quinta-feira, 21 de julho de 2011

Nas Nuvens

Brasília (algumas coisas não mudam) – No mundo da tecnologia, surge uma “nova” tendência: as Nuvens. Trata-se da utilização de vários servidores com grande capacidade de armazenamento, como se fosse um servidor apenas, formando uma Nuvem. Cada usuário pode centralizar suas informações e utilizá-las por meio de qualquer dispositivo que lhe permita acesso a este servidor (a internet seria a mais utilizada para isto). Internacionalmente, utiliza-se o termo Cloud (nuvem) para designar esta idéia. Para mim, trata-se de uma nova versão do bom e velho terminal burro, só que “mais inteligente”.

Os argumentos apresentados para defender esta idéia são válidos. A praticidade da solução é o que mais me chama a atenção, tendo em vista que hoje em dia temos a possibilidade de ficar on-line por praticamente 24 horas por dia e que diversas vezes precisamos transferir arquivos entre os diversos dispositivos que fazem parte do nosso dia-a-dia, como as câmeras fotográficas, smartphones, tablets, notebooks, computadores desktop e etc. Por este prisma, o “novo” paradigma é realmente “a solução”.

Este tipo de solução já foi utilizado no passado (terminais IBM 3270, por exemplo) e descontinuada. Os principais motivos que levaram este tipo de filosofia ao desuso, relacionados à continuidade, disponibilidade e escalabilidade estão equacionados. Hoje em dia, a capacidade de processamento dos terminais (outrora “burros”) é altíssima e a evolução das tecnologias de telecomunicações foi tão grande quanto a evolução da capacidade de processamento em si, com destaque para um elemento fundamental que é tecnologia de conexão sem fio (wireless). Outro ponto positivo à filosofia em questão é o armazenamento em disco, um dos recursos mais caros atualmente tratando-se de grandes volumes de processamento, envolvendo questões como: backup, plano de recuperação, redundância e etc. Se atualmente os usuário necessitam ter, em suas estações de trabalho, discos rígidos com alguns Tera Bytes para armazenar fotos, vídeos e músicas, a proposta da utilização de Nuvens é que esta necessidade diminua, permitindo a transferência dos investimentos em armazenamento de dados para o aumento da capacidade de processamento ou para a aquisição de periféricos.

É fato que grandes corporações como Apple e Google estão investindo bastante nesta nova filosofia e oferecendo planos com preços atrativos ou até mesmo gratuitos a seus usuários. Alguém acha mesmo que o retorno ao alto investimento se dará por meio de publicidade ou da agregação de valor pelo aumento da carteira de clientes? É óbvio que não! Todo o conteúdo armazenado numa Nuvem estará acessível ao provedor do serviço (salvo situações previstas nos termos de uso). À grosso modo, o mundo inteiro estará produzindo conteúdo para o seu provedor de serviços. Se fizermos um paralelo com o sistema capitalista, onde os cidadãos depositam seus ativos (dinheiro) nos bancos, mediante um acordo de prestação serviços, as corporações provedoras de serviços de Nuvem farão o papel das instituições financeiras na sociedade da informação. Olhando para o passado, aprendemos, com todos os regimes, sistemas e outras formas de organização das sociedades, que o grupo que detém o poder é o mesmo que detém o principal ativo de seu tempo. Ou seja, as Nuvens, caso realmente venham a ser utilizadas em larga escala, darão a seus provedores uma enorme possibilidade de domínio do poder.

O conceito de Nuvem, apesar de apresentado como uma novidade, é antigo e já fracassou no passado, mas atualmente tem tudo para funcionar bem, tendo em vista a superação dos entraves que levaram seu desuso no passado. Seu uso não deve ser descartado, já que oferece benefícios tangíveis aos usuários. Porém, é importante que cada cidadão proteja seu patrimônio e não o entregue nas mãos de alguém que poderá lucrar utilizando suas idéias ou produtos. A sociedade passa por uma transformação fundamental, porém algumas coisas tendem a continuar da mesma forma: os ativos sendo controlados por um grupo pequeno, que acaba detendo o poder, e a grande massa da população com uma falsa sensação de liberdade, mas que, na verdade, está produzindo para que outros enriqueçam e perpetuem seu domínio.

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